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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

As caixas d’água de Bezerra

 

Sob a gestão de Clementino Coelho, irmão do ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional), a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco) fechou um contrato de 210 milhões de reais, no fim do ano passado, com uma empresa mexicana que vai espalhar 60 mil cisternas na região do semiárido nordestino.

O contrato provocou polêmica em Petrolina (PE), base eleitoral de Bezerra. A empresa contratada vai construir os equipamentos com polietileno – material que, segundo especialistas, são menos duráveis que as antigas cisternas, feitas com placas de cimento.

Vencedora de licitação, a empresa mexicana Acqualimp, do Grupo Rotoplas (com sede em Valinhos, no interior paulista), mal fechou o contrato e já inaugurou, fábricas em Petrolina (PE), Teresina (PI), em Montes Claros (MG) e Penedo (AL).

Bezerra foi prefeito da cidade duas vezes. O filho dele, Fernando Coelho Filho (filiado ao PSB, como o pai e o padrinho político do pai, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos), é pré-candidato a prefeito do município.

Nos últimos oito anos, a construção das cisternas, espécie de caixa d’água que coleta a chuva durante três meses e abastece uma família para o resto do ano, era responsabilidade de ONGs contratadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Ou seja: sob a gestão Bezerra, a Integração assumiu a braçadeira para as obras numa área de influência da família do ministro.

A unidade construída com polietileno custa, em média, 1 mil reais a mais do que as cisternas tradicionais (3 mil reais).  É como trocar uma piscina de azulejo por uma de fibra, só que mais cara.

Desde o começo do ano, o ministro Bezerra é alvo de uma série de reportagens que indicam um suposto direcionamento de recursos federais para seu reduto. Sob sua gestão, o ministério destinou a Pernambuco 90% das verbas de um programa para obras anti-enchete. Dias após recebeu críticas por supostamente beneficiar sua base, o irmão do ministro deixou o comando da Codevasf, que contratou a empresa.

Enquanto a Acqualimp se defende e aponta que suas cisternas duram em média 30 anos, Haroldo Schistek, engenheiro agrônomo e coordenador do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), com sede em Juazeiro (BA), teme que a solução se torne infrutífera a longo prazo. “As cisternas de polietileno tem pouca durabilidade. Aqui, tubos de irrigação desse material duram apenas 12 anos”, diz o engenheiro.


Fonte: www.cartacapital.com.br/politica/as-caixas-dagua-de-bezerra